setembro 25, 2007

jurou que sonhava...

Finalmente o tinha rendido em sua cama. Podia cheirar seu pescoço, beijar-lhe o canto da boca, morder sua orelha. Sentir seu peso e sua língua. Bagunçar-lhe os cabelos, arranhar suas costas, passear pelo seu corpo e conhecer cada mancha, cada pinta.

Gostou de se enrolar em seus braços, substituindo o lençol. E sentiu aquela respiração calma em sua nuca...

Alguém poderia dizer que foi isso que a fez adormecer. Mas era outra a razão do torpor... bem mais intensa.

setembro 17, 2007

impregnado

Tem rua que tem cheiro. Óbvio. Mas o que eu quero dizer é que tem lugares que têm cheiro de gente que eu conheço. Nitidamente. Como uma brisa que envolvesse o meu corpo na imediata lembrança de alguém.

Quando isso acontece, o normal é ficar amolecida e, ao mesmo tempo, inquieta. Ressabiada. Como se pudesse esbarrar na criatura a qualquer momento.

O fato é que minha memória marca alguns perfumes. Que não são, exatamente, perfumes. Então, pode ser que o caminho não seja o que aparenta ser, à primeira vista. É difícil dizer se o cheiro está realmente no ambiente ou se se esconde dentro de mim mesma.

setembro 03, 2007

na hora

Assim que a porta se fechou atrás dela, balançando na entrada da padaria, avistou o moço saindo da cozinha e chegando no espaço estreito do balcão para despejar uma fornalha de pães ardentes. Chegou perto da atendente e perguntou, meio boba ainda, Saíram agora?!. A garota, com um dia longo nas costas dentro daquele inferno, olhou-a com desprezo e simplesmente acenou com a cabeça.

Esbugalhou os olhos e pediu oito. Enquanto esperava o pacote, olhou sedenta para a parte de frios e varreu as prateleiras numa velocidade incrível, até que avistou a latinha laranja. Pegou os pães embalados e teve certeza “Esses aqui merecem.”.

Quando saiu, nenhuma sombra daquela nuvem pesada de chateações parecia ter sobrevivido. Catou o celular e fechou os olhos por um momento. Vai dizer que sim! Vai dizer que sim! Vai dizer que sim!.

Tenho uma surpresa pra você, pode chegar em 10 minutos? Chegaria em 15, provavelmente, mas o sim já bastava para deixá-la ainda mais radiante. Pelos metros que restavam até alcançar o prédio, parecia uma criança depois de comprar doce. Duas sacolas brancas, uma em cada mão.

Surpreendeu-a na porta do apartamento. Já estava quase aqui quando você me ligou. E o beijo saiu atrevido. Ó! Sente só...

A sintonia mais profunda se percebia enquanto rasgavam o pão, esperavam a manteiga derreter e colocavam aqueles pedaços na boca como se fossem pedaços de céu.