outubro 01, 2010

baiano

"...e com a mesma promessa de nada prometer."

Saudades de você, amigo. Do seu olhar inevitavelmente de cima, da sua pele melhor que a minha, da sua gargalhada maliciosa.

Saudade do truco, do andar descompromissado e até - vejam só - do cigarro.

Vontade de te abraçar me aproveitando dos desníveis de qualquer escada. Vontade de ouvir tuas perguntas e argumentos loucos. Vontade de te explicar o que sei que nunca conseguirei te fazer entender.

Traiçoeira teimosia essa que nos habita. Ela é um dos nossos poucos pontos em comum.

Amo você, sinceramente. Mas fico rebobinando nossa história em minha memória e desconfio que nossos gênios sempre se agarraram ao mesmo pólo do ímã.

Espero que estejas bem. Bronzeado. E espero também que a cerquinha branca já tenha se tornado realidade.

Um beijo temperado pra você.

junho 22, 2010

cansada de terra

Florianópolis. Norte da ilha.

A quase solidão numa dessas praias custa um pouco caro. Enrolada em um monte de panos, um gorro por baixo do boné, mãos nos bolsos, ando contra o vento sentindo o ar gelado e úmido cortando minhas bochechas. A ponta do nariz já está anestesiada. Mas a paisagem cinza do final da tarde de inverno não me assusta.

Meu maior gosto é ficar assistindo ao mar. Agitado e escuro. Em alguns momentos, minha vontade é de ser engolida por ele. De um golpe só.

Assitir a migração dos cardumes. Cuidar de jardins de corais. Virar mulher de Netuno.

maio 19, 2010

erro de cálculo

Encontrou-o na porta da biblioteca. Ela entrando, ele saindo. Sentindo-se atrevida, aproximou-se para lhe dar um beijo no rosto pegando atrás de sua nuca. Não foi obra do acaso. Voluntariamente, não tocou em seu braço, não tocou em seu ombro, como normalmente aconteceria. Tocou, acariciou, com sutilíssima malícia, sua nuca.

Era o que bastava. Naquela noite, ele sonhou com ela.

Na semana seguinte, ao encontrá-lo na aula, como de costume, ela percebeu, quase sorrindo, seus batimentos acelerados.