março 17, 2007

o que tu não vês

Eu não queria te dizer que te amo. Mas meu coração se precipitou.

Não queria te abraçar e beijar-te assim, mas minha boca foi mais rápida que a minha prudência.

Não era a minha intenção me entregar tão plenamente, deixar-te dominar o meu pensamento, a minha cama, o meu tempo. Meus planos foram pro espaço, meus receios não fizeram a mínima diferença.

Lembrei que tinha pedido algo novo ao vento. Às vezes, a gente pede sem pensar.

Agora fico eu aqui, brigando com os meus sentimentos, minhas preocupações. E tu disperso, sem pensar na tormenta que me está acontecendo.

Horrível é ter que falar de números quando se quer realmente falar de flores.

março 09, 2007

esclarecendo o crime

Quando se recuperou do estado hipnótico em que se encontrava, aproximou-se um pouco. Com movimentos extremamente lentos, calculados centímetro a centímetro, foi ocupando o pequeno corredor entre o armário e o lado direito da cama. Agachou-se para ver melhor seu rosto. O vento balançava a cortina um pouco transparente. De repente, ela puxou o ar com mais força, largou o travesseiro, trocou de lado, encolheu as duas pernas. Ele arregalou os olhos e prendeu a respiração. Teve medo de que ela o pudesse ouvir. E agora? O que faria? Que loucura mais mal planejada essa na qual ele tinha se metido.

Queria deitar no espaço que ela parecia ter deixado agora para ele. Quem sabe, ela estivesse sonhando e se ele a beijasse, ela retribuiria seu beijo. Tocou o colchão. Passou a mão no lençol perto de suas costas. Testou apertar um pouco a espuma pra ver se ela se movimentava. Nada. Tudo parecia convidá-lo a dizer sim ao seu impulso. Ele, então, levantou um pouco e foi sentando devagar num pedaço mínimo da cama. Sentia-se meio bêbado de adrenalina. Ia tentar tocá-la, mas teve medo. Tentou só sentir o calor de seu corpo e foi acompanhando o desenho dos ombros, da cintura, dos quadris.

De repente, teve um surto de caretice e sentiu-se na mais absurda das situações. Saiu da cama, deixou o quarto. A adrenalina parecia ter desaparecido e a culpa subiu à cabeça. Ia já em direção à sacada, quando algo o fez novamente parar.

Momentos sublimes esses das decisões repentinas e alucinadas. Sempre me surpreendo com elas.

Pegou um papel e uma caneta perto do telefone e escreveu o bilhete que deixou no sofá: "Perdoe-me a invasão do apartamento, mas quem começou foi você. Amo-te profundamente."

março 08, 2007

companhia...


Invadiram a vista da minha janela. Assim, sem permissão. Chegaram sem que eu percebesse e foram ficando, como toda paixão arrebatadora.