Começava o espetáculo.
Ele via sozinho, com uma lata de cerveja na mão. O coração tão cheio, parecia cheio de nada. Doía-lhe o vácuo.
Os fogos começaram a brilhar nas gotas que escorriam em sua bochecha. E, cada vez, a visão foi se tornando pior, mais desfocada, mais turva.
Salgado o rosto, destemperado o peito. Todo o amor que sentia não lhe bastava mais. Amar alguém estava tornando-o vazio. Precisava de algo que certamente ia além da sua vontade, da sua esfera de ação. Precisava ser resgatado por alguém.
O que será que o ano novo lhe guardava? Será que lhe guardava alguma coisa?
A cerveja no fim e a madrugada, o ano, a vida, só no começo. Um começo marcado por um choro silencioso, que, cortado pelo barulho dos estouros cada vez mais esparsos, parecia lhe doer ainda mais.