Tinham passado 15 minutos de um vendaval sem precedentes. Na televisão, não precisaria esperar muito para que pipocassem as notícias de tragédias. Se antes a casa uivava através das fresta das janelas, agora parecia ter mergulhado num profundo silêncio. Logo o vento voltaria calmo, como sempre.
Resolveu sair de casa naquela tarde nebulosa. Aproveitar o pouco tempo antes da chuva. Sentir o cheiro da umidade.
Pôs o pé na areia. Estava gelada. Inflou o peito. Sentia-se só. A solidão se agravava por pensar que estava estagnado. Sua vida parecia sempre a mesma. Foi se aproximando do mar e sentiu algo alcançar seus pés. O vento suave fez enrolar em seu tornozelo um tecido frio. Olhou-o.
Ficou maravilhado quando abriu o tecido. Tão fino e tão leve, misturava cores muito vivas de rosa e azul. Notou fios dourados trançados na trama. Em uma das franjas, uma corrente amarrada. Carregava um pingente de lua e estrela. Parecia ouro.
Sentou-se na areia. Ainda podia sentir um levíssimo perfume no tecido. Deixou sua imaginação divagar.
De repente, levantou-se. Enrolou a canga sobre os ombros, deixando-a bem à mostra. Segurou a corrente entre os dedos e caminhou na direção contrária ao vento.
Caminhos misteriosos, pensou.