março 07, 2006

surreal

Sentiu-se triste. Só. E quando se sentia assim, nessa tristeza particular, ia até o piano. Olhava demoradamente para as teclas e folheava as partituras. Nesses momentos, amava os adagios, os bemóis, os tons menores mais característicos, as notas longas, o pedal. Ah... quem dera pudesse ler as peças mais apaixonadamente românticas de Brahms. Quando, enfim, começava a tocar, não interpretava a peça com o rigor técnico que lhe ensinaram os professores. As lágrimas brotavam de seus olhos. Seus dedos eram extensões perfeitas para seu coração magoado. Tocava como se aquele fosse seu grito, como se compusesse um doloroso lamento. Qualquer um que a visse choraria junto. Quem sabe,... qualquer um que a ouvisse. Não sabia que triste tocava lindamente. Triste... o instrumento se tornava seu mais íntimo amante e companheiro. Dessa relação... um afinado desabafo.

3 comentários:

Banido disse...

As lágrimas eram a condensação dos acordes.


Tenha um bom dia.

Mythus disse...

Alegria e tristeza, estranhamente, criam belíssimas obras. Muito mais esta que aquela.


Aquele que toca, acho que toca, quando está triste consegue normalmente tocar pra si, e precisa de um esforço grande para tocar para os outros. Já quando está feliz só quer tocar se for pra Deus e o mundo. :^D

faissal disse...

qdo o mythus falou não imaginava que iria ser tão parecido... ele disse q esse seu texto e o último no meu blog eram parecidos... a leitura é quase casada... fomos separados na maternidade?

beijo.. e ótimo(s) texto(s).