novembro 12, 2005

identidade (5) - fim

- Por que tenho a impressão de que você não me é tão desconhecido assim?

- Me conheceste poucos minutos antes do acidente.

Franzi a testa. De repente, aquela imagem de alguém me apertando bruscamente os ombros...

- Você é aquele pai...

- Isso mesmo. O que procurava pela mulher dos cabelos cacheados.

- Nossa...

Por algum tempo ficamos nos olhando. Quando eu vi aquele tapa, pensei que era só uma voyer de uma história que nunca seria minha. Mas aquela mão pesou em mim, de alguma forma, e em poucos segundos eu deixei de ser uma simples observadora. Estava completamente envolvida naquele estranho contexto.

Felipe me contou sobre um caso tórrido de amor. Pura imaturidade e inconseqüência. A falta de dinheiro os separou. Alguém mais rico e mais ingênuo entrou na jogada. Ele ficou sem amor, sem filho. Ela conseguiu se esconder por um tempo. À primeira vista, Felipe achou que seria melhor assim. Mas, como acontece com algumas coisas que a gente deixa pra trás na vida, o tempo passou e a vontade de remexer no passado apareceu como unha encravada. Incomodava. Doía. Aos poucos, o que parecia morto pra sempre começava a recobrar os sentidos. Cada passo à frente que dava lhe soava como uma imensa vitória. Dezesseis anos se passaram até que tudo estivesse pronto.

Mas a multidão, as pistas, eu, ele, a mãe. Felipe não tinha dado conta de todas as variáveis. Reconstituía-me as cenas do "quase-encontro" com os olhos completamente marejados. Acabei me perdendo no azul intenso daquelas janelas abertas de sua alma.

- Eu cheguei a vê-lo de relance! Seus olhos... lembraram-me tanto de meu...

Sentado na beirada de minha cama, não terminou a frase. Ao fechar os olhos, duas lágrimas espessas escorreram. Respirou fundo e enxugou-as com a mão direita.

- Desculpe-me. Sei que não tens nada a...

Não me contive. Beijei sua boca. Lembrando-me disso, nem sei exatamente o quê jogou meus lábios contra os dele, mas o fato é que nossos dois corações inquietos, naquele momento, acalmaram-se. Não era só o peito dele que se encontrava tão vazio. Enlacei seu corpo no meu suavemente e inspiramos juntos. Tudo parecia mais leve. Quando lentamente afastei meu corpo, toquei em sua nuca e acariciei seu cabelo. Ele sorriu.

- Não se preocupe. Eu estou contigo agora.

* Não sei exatamente se essa história termina por aqui. O fato é que não tenho mais nenhuma informação a respeito do caso. Se alguém souber de alguma coisa, por favor, continue o relato.

2 comentários:

Anônimo disse...

E dá para continuar como romance, drama, thriller... as opções são muitas. Gosto dessas histórias que nos deixam espaço para imaginar o que vem depois.

Mythus disse...

Paraí? O filho do cara tinha 16? Mocinha, ele deve ser muito velho pra você. :^P

Atentendo ao público, teve beijo, agora wlad vai continuar a história ;)

Será que ela vai recobrar toda a memória e se lembrar que realmente era casada? O.O