novembro 27, 2005

breathing

Outono chegara. Naquele país que lhe era tão sonhado, as folhas amareladas e avermelhadas cobriam as ruas que lhe pareciam tão antigas. Caminhava e, no olhar, trazia um misto de curiosidade e familiaridade. O canto esquerdo da boca levemente curvado para cima. O instrumento pendurado no ombro direito e as mãos nos bolsos daquele casaco que deixava ser corpo esguio. Gostava de sentir os cabelos voando suavemente com cada passo largo seu. Olhava as folhas se espalharem e as pessoas que passavam sem a notar. Ela as notava, todas. O sol do amanhecer era seu amante. Sentia-o entrar em seu corpo como alguém que a conhecia há muito, muito, muito.

Começava a ouvir o som de um violão e uma voz. Aproximavam-se. Apaixonou-se pela melodia. Ao chegar à esquina, viu-o sentado num café, completamente absorto nos acordes. Parou. Pôs-se a ouvi-lo e só a ouvi-lo. Em poucos segundos não prestava atenção a mais nada. Só a ele. Sua cintura acompanhava discretamente o ritmo. A cidade era dela. E os olhares da cidade também passaram a ser. O dele continuava fechado. Quando ele levantou as pálpebras, não existiu possiblidade de não a ver. Cumprimentaram-se sem gestos ou palavras. Ela se lembrou de qual era o final de seu caminho naquele dia. O sol lhe chamava de volta. Então, ela foi até o músico, deu-lhe um beijo no rosto e voltou a pisar nas folhas secas.

Yes, sir. I love this. Wish you were here.

2 comentários:

Anônimo disse...

Não sei bem o porque, mas me lembrou Pink Floyd...

#:-)

Mythus disse...

Schroon Lake, Adirondack Mountains, 1992. Ao lado do lago, no Snack Shack. Um dia te mostrarei as fotos.