outubro 21, 2005

identidade (2)

De repente, senti-me como um floco de neve numa encosta íngreme abalada pelo vento. Esforcei-me para que meus pés acompanhassem o ritmo forte da multidão. Apavorante era a sensação de um iminente atropelamento. Rumo à escadaria da igreja, meu corpo ia sendo levado pelos movimentos dos outros. Indescritível desespero. Meu coração na boca. Meus olhos embriagados viam meu corpo no chão.

Ouvi os porretes baterem em escudos de plástico. Os gritos já eram outros.

Chegando ao primeiro degrau, senti-me mais livre e resolvi mudar de direção. Não era fácil remar contra a corrente. Mas tinha que deixar a fumaça pra trás. Finalmente conseguia correr. Não sabia pra onde estava indo. Não me vi chegar à avenida.

O freio berrou junto com a buzina. Por último, ouvi o impacto da cabeça no pára-brisa.

3 comentários:

Anônimo disse...

O corredor era escuro e sombrio. Longo demais. Ao menos pelo que me levava a percorrê-lo. Ao final podia enxergar uma luz intermitente e escassa. Cena deprimente. Não me cabia essa tarefa. Uma mistura de desespero, arrependimento e, de certa forma, orgulho. Eles repetiam incessantemente, ao léu, enquanto caminhávamos em direção à porta da última sala daquele sombrio caminho:

-Esse é o fim para tipos como o seu. Seu comunista. Terrorista.

-Vai! Anda!

-Sim...anda! Vai ver a sua menininha! Como está linda!

-Viu a cena? Scrinnnchhh!! Pummm! - em onomatopéias ridículas.

Riam.

Com um solavanco, porta adentro, fui parar no meio de uma sala fria, escura, paul. Um deles não se conteve e puxou o gavetão avidamente. Senti agarrarem os cabelos de minha nuca e forçaram-me a ver o que eu não queria. Puxaram a mortalha.
Os olhos dela. Ainda estavam abertos. Chorei. Infindáveis imagens serpentearam minha mente. Um som. Violino. Lá maior, Caprice,... Amoroso. Dor angustiante. Foi um fim sereno. Senti a bordoada e a paz reinou.

Mythus disse...

Depois disso ela nunca será a mesma, tenho quase certeza que ela vai desenvolver sociofobia.

Um incidente com uma multidão, um acidente de carro, uma batida na cabeça... Pronto! Eis que surge mais uma super-vilã de uma revista em quadrinhos da DC Comics. (Com a mulher gato foi quase a mesma coisa) :P

Espero que o próximo capítulo não seja num hospital... Diz pra mim que a pancada não foi tão forte, vai?

Anônimo disse...

tadinha...