agosto 15, 2005

um tanto fora de época

- ... você tivesse visto. Está enorme. Eu acho que o problema é que ela casou muito cedo. Também...

Desligou-se por um instante. Seus olhos desviaram do olhar dela. Nada perceptível para alguém que tinha a concentração em outras coisas.
Shoppings eram sempre assim. Ainda mais naquele horário. Adolescentes por todo lado. Viu-se em alguns deles. Mochilas largas que batiam na bunda das jovens criaturas a cada passo. Nas meninas, aquelas bolsas compridas que quase as impediam de andar. Ele não tinha conhecido os pinduricalhos que estavam na moda hoje. Meninas de treze anos com saltos enormes e maquiagem diária. Ficou tentando recordar como esse desfile caricato lhe parecia quando tinha os seus 15.

- ... um prateado ma-ra-vi-lho-so. Fiquei pensando que também poderíamos comprar um. O que acha?
- Podemos ver.

Do outro lado um grupo de garotos secavam três meninas em uma mesa. Senhor do céu... não me lembro mais se eu era tão patético... Incomodou-se com a maneira com que uma das garotas mascava o chiclete. Franziu a testa. Um dos garotos se levantou com a bermuda mais baixa que a cueca. Conversas e risos fúteis. Não... fúteis não... imaturos, provavelmente.
Seu olhar voltou para ela. Enquanto falava, olhava incessantemente para as unhas que havia acabado de fazer. Reparou no jeito esquisito com que pegava as batatas fritas. Unhas grandes... deve ser difícil mesmo... Bocejou. Esfregou os olhos. Cruzou os braços. Já era a terceira vez que sentava na mesma cadeira naquela semana.

- ... convidou a gente pra ir também. Adorei. Mas não tenho roupa e não posso ir de qualquer jeito. Acho que...

Difícil vai ser ela achar algo que combine com aquele sapato que comprou no outro dia. Tinha que dar uma segurada. Estava começando a ficar preocupado com a prestação do cartão. Lembrou-se de que precisava passar na farmácia. Ela havia lhe pedido pra comprar band-aids quadrados para evitar os calos, companheiros dos couros duros e dos saltos altos.
Achava horríveis aquelas sapatilhas de plástico com o bico fino que vendiam po aí. Umas rosas, outras azuis, brancas. Mas ela tinha uma também. O comentário era proibido.
Viu um menino com o braço por cima dos ombros da namorada. Parecia que tinha o rei na barriga. Também sentia que, naquela época, ter uma garota bonita e bem arrumada era troféu.

- ... mesmo o cinema?
- Hum?!
- O filme. Que horas começa mesmo?
- Ah... é... daqui a quinze minutos.
- Meu bem... você não quer ir entrando? Acho que vou dar uma olhadinha naquela saia ali.
- Vai. Eu te espero.
- Lindo. Te adoro, viu?!

Deu-lhe um beijo estalado no rosto.
Ela era tudo o que ele queria. Quando era adolescente.

4 comentários:

Anônimo disse...

jUDIAÇÃO!!!
MAIS PARECE FILME AMERICANO DOS ANOS 80
EMBORA AS COISAS de shopping SEJAM ASSIM
bem oitentinha mesmo.

Mas daria um bom curta.

Anônimo disse...

"..queria. quando era adolescente.."

Primeiros acordes e as leis da física perdiam o sentido, os hormônios erravam seus cursos ao menor toque mútuo e por um momento não compreendia o idioma falado na pista de dança.
Sinceramente, Amstrong pisou sobre minha pegada.

Mythus disse...

Já disseram: "aproveite o melhor de cada fase", porque nem precisa dizer - todo mundo atenta para o que há de pior em cada idade. O tempo é implacável: ainda que se tente aproveitar tudo, nunca será o suficiente. A nostalgia sempre haverá.

Anônimo disse...

Talvez a rotina realmente canse e desgaste um relacionamento. Espero não ter que passar por isso, ou ao menos saber como lidar bem com a situação.