janeiro 16, 2008

início

Quando se aposentou, nem considerou a possibilidade de parar de trabalhar. Era muito novo ainda. Sentia-se muito novo ainda.

Ficou mais dez anos com o escritório. Nos primeiros anos acabou até aumentando o ritmo de trabalho. Depois, aprendeu a dosar. Muito mais coisas se tornaram triviais.

Mas chegou o dia em que começou a pensar que seria bom aproveitar o restante da vida... sem os compromissos alheios à sua vontade... sem a beca usual... sem os ambientes de ar condicionado.

Organizou uma lista com os contatos de seus principais pupilos. Meu filho bem que podia estar aqui. O rapaz tinha escolhido jornalismo. E saiu revolucionário, vá entender. De agora em diante, passaria seus clientes para eles.

Quando chegou em casa, na sexta-feira, sentou na poltrona confortável do escritório e suspirou profundamente. Deve ter ficado uns dez minutos ali, ouvindo o silêncio. Levantou-se, abriu o armário ao lado do arquivo, catou dois CDs e ligou o computador. Há tempos não via aquelas fotos. Mas o que realmente lhe chamou a atenção foi uma pasta de páginas html. Ao abrir, foi atropelado sentimentalmente por um antigo blog. Vasculhou quase todos os posts.

Saciado, abriu o último que publicou em tela inteira. Encostou-se na cadeira, apoiou o cotovelo na mesa e alisou a pele escanhoada do rosto sem tirar os olhos do monitor.

De repente, foi em busca do celular.

- Lembra aquele trato? Partidas de xadrez são minhas, as de damas são tuas. Você leva as peças? Vou comprar uma boa garrafa de vinho e vou reservando uma mesa na praça. Beijo.

3 comentários:

Fábio disse...

Sabe qual é a sensação que eu tenho quando leio seus posts? Conforto. Você é dona de suas palavras, e transmite essa segurança de uma forma tão sutil, que acabamos por nos prender voluntariamente a elas.
Pena que os seus posts são escassos - ou não, talvez faça parte da magia.
É.. tá na hora de aproveitar a vida. Nunca se é novo ou velho demais.
Abraço

Anônimo disse...

De boina, suspensório e cueca feia... :P


Gostei demais, viu?

Fábio disse...

Podemos fazer um contrato sim. No que eu puder te ajudar, faço com o maior prazer. Meu prazo é menor, tenho que terminar tudo até domingo. Mas você ainda tem prazo.
Minha única condição é a de que você escreva mais por aqui. Suas palavras fazem falta de vez em quando hehehe
Abraço