Quando ultrapassaram o meio-fio, ela o pegou nos braços.
- Esse matinho machuca.
Colocou-o novamente no chão quando chegaram na areia fofa.
- Ei! Olha como a sombra tá grande!!!
- Hehe... e não é?! Somos dois gigantes...
Além dos que acordavam cedo para correr na beira do mar, ninguém mais deixava pegadas por ali. Brincaram um pouco com o sol nascente.
- Adivinha o que é isso...
- Ai... deixa ver... é um coelho.
- Isso!!
Fizeram monstros, aviões, galos,... tudo o que as sombras das mãos puderam inventar.
- Ei... olha pra lá. Tá vendo aqueles pássaros?
- Tô. O que são?
- São gaivotas. Quer me ajudar a tirar umas fotos?
- Eu posso?!
- Claro. Vem bem devagarinho comigo. Não podemos assustá-las.
Ela falava baixinho no ouvido dele. Dáva-lhe orientações precisas. E ele amou aquela decolagem que colocou na memória da câmera. Aproveitou para deixar uma foto dela entre as muitas que já havia dele.
- O sol tá levantando. Vem que eu vou passar protetor em você.
Olhava com uma ternura imensa aquele rostinho de pele tão perfeita. Tascou-lhe um beijo no pescoço.
- Desculpa. Não resisti.
- Hehehehe...
- Quer dar um mergulho?!
Ele tinha medo, mas ela lhe passava um sentimento forte de segurança. Enquanto ele chutava a água, caía, catava uma concha, descobria um buraco, voltava a levantar, ela sorria e lhe roubava discretamente alguns momentos mexendo nas lentes.
- Anjo! Olha só!
- O quê?
- Vem cá um minuto.
As tatuíras tinham arranhado seus pés. Pegou uma. Ele recuou num primeiro momento, depois percebeu que não tinha com que se preocupar. Adorou descobrí-las e colocá-las cuidadosamente, de volta, na areia molhada.
- Você vai ficar aqui amanhã também, né, tia?!
- Eu vou, meu amor. Amanhã também.
Abriu um sorriso enorme, abraçou sua cintura e olhou novamente para dentro dos olhos dela. Não percebeu o outro mar se formar. Correu atrás das águas... feliz.
Preciso arranjar um desses pra mim. O problema é conseguir um grande, antes.