outubro 14, 2007

sábado

Quando ultrapassaram o meio-fio, ela o pegou nos braços.

- Esse matinho machuca.

Colocou-o novamente no chão quando chegaram na areia fofa.

- Ei! Olha como a sombra tá grande!!!

- Hehe... e não é?! Somos dois gigantes...

Além dos que acordavam cedo para correr na beira do mar, ninguém mais deixava pegadas por ali. Brincaram um pouco com o sol nascente.

- Adivinha o que é isso...

- Ai... deixa ver... é um coelho.

- Isso!!

Fizeram monstros, aviões, galos,... tudo o que as sombras das mãos puderam inventar.

- Ei... olha pra lá. Tá vendo aqueles pássaros?

- Tô. O que são?

- São gaivotas. Quer me ajudar a tirar umas fotos?

- Eu posso?!

- Claro. Vem bem devagarinho comigo. Não podemos assustá-las.

Ela falava baixinho no ouvido dele. Dáva-lhe orientações precisas. E ele amou aquela decolagem que colocou na memória da câmera. Aproveitou para deixar uma foto dela entre as muitas que já havia dele.

- O sol tá levantando. Vem que eu vou passar protetor em você.

Olhava com uma ternura imensa aquele rostinho de pele tão perfeita. Tascou-lhe um beijo no pescoço.

- Desculpa. Não resisti.

- Hehehehe...

- Quer dar um mergulho?!

Ele tinha medo, mas ela lhe passava um sentimento forte de segurança. Enquanto ele chutava a água, caía, catava uma concha, descobria um buraco, voltava a levantar, ela sorria e lhe roubava discretamente alguns momentos mexendo nas lentes.

- Anjo! Olha só!

- O quê?

- Vem cá um minuto.

As tatuíras tinham arranhado seus pés. Pegou uma. Ele recuou num primeiro momento, depois percebeu que não tinha com que se preocupar. Adorou descobrí-las e colocá-las cuidadosamente, de volta, na areia molhada.

- Você vai ficar aqui amanhã também, né, tia?!

- Eu vou, meu amor. Amanhã também.

Abriu um sorriso enorme, abraçou sua cintura e olhou novamente para dentro dos olhos dela. Não percebeu o outro mar se formar. Correu atrás das águas... feliz.

Preciso arranjar um desses pra mim. O problema é conseguir um grande, antes.