O dia no colégio tinha sido chato. Aulas de matemática são bacanas quando o assunto é compreensível. As matrizes sempre o pegavam pelo pé. A amiga havia faltado.
Saiu daquela muvuca na porta da escola com um ar meio pesado. O dia estava diferente dos normais, sempre marcados pelo sorriso maroto no rosto. Despediu-se rapidamente dos amigos, não estendeu nenhuma conversa.
Desistiu de pegar o ônibus, preferiu andar. Foi subindo a ladeira da rua comprida que daria na sua casa. Ele gostava do esforço extra nas pernas.
De repente, o céu fechou. A ventania chegou rápido arrancando muitas folhas secas das árvores.
O garoto já foi se preparando para a tempestade. Da mochila que carregava com as duas mãos segurando as alças nos ombros tirou o guarda-chuva. Mais uns cinco passos e a água caiu. Muita. Tanta, que ele resolveu esperar a crise mais forte passar debaixo da marquise da padaria.
Fez um pequeno esconderijo: sentou na soleira da entrada, colocou o guarda-chuva na sua frente e se encolheu no abrigo improvisado. Depois de uns 10 minutos, o toró virou chuvisco e o menino retomou seu rumo.
Chegou no topo da ladeira e percebeu quanta água tinha caído. Corredeiras se formaram entre o meio-fio e a rua asfaltada. Começou a saltar poças, transpor córregos. Mas não demorou muito para perceber que não fugiria das águas que corriam cada vez mais depressa na descida.
Então lembrou das histórias de que mais gostava, dos heróis preferidos e virou o guarda-chuva. Pousou-o sobre uma das corredeiras e sentou na parte interna, envolvendo a estrutura metálica com as pernas. Usou o cabo como manche. Assim desceu as cinco quadras ladeira abaixo. Como numa aventura dos quadrinhos que sempre lia.
Rapidamente chegou em casa, mas com o guarda-chuva destruído e as roupas encharcadas.
Assim, a manhã que havia terminado desanimadora, transformou-se num dia delicioso e único. Depois da preocupação e do carinho maternos, um banho quente e um almoço com banana frita e farofa, deitou no sofá sentindo a brisa fresca vinda da janela. Puxou uma colcha, agarrou uma almofada e dormiu.
8 comentários:
Cidades com ladeiras lembra Campina Grande. Aliás, parece a própria Campina em tempo de chuva. A pergunta que fica no ar é o que aconteceu com a amiga dele -- provavelmente nada, já que ele esqueceu completamente do assunto.
Duas perguntas que me vieram à cabeça: Qual o tamanho do garoto? E do guarda-chuva?
Saudades daqui. Preciso de mais tempo para voltar mais vezes. Abraço!!!
olá, sou blogueiro novo e adorei teus textos, entra no meu blog e comenta
Eu leio e releio esse último parágrafo, e me dá uma vontade de deixar tudo como está e simplesmente sair andando...
Você tem msn?
Abraço
não vais voltar a postar, moça?
beijos
Se o silêncio é grande
O suspense se instala
E a supresa, na volta, será imensa!
Heleninha de Tróia!
Sumiste, desapareceste e ando sentido sua falta. Mesmo.
Beijo!
Oi... encontrei seu blog "por acaso"
mas agora percebi q não foi acaso!
Adorei isso aqui!!
Parabens!!
Vou t linkar no meu blog e voltar mais vezes!!
Abço ^^
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