Peguei um táxi da rodoviária ao aeroporto. Teoricamente, precisaria me apresentar em 5 minutos no check-in e pensei que não seria nada prudente arriscar pegar o ônibus. Perfeito.
- O Sr. pode me levar até o aeroporto?
Não gosto muito de papo com taxista, mas... costumo ser simpático. Depois de meia dúzia de amenidades, justificou-se por não passar no amarelo e começou aquela conversa de motorista indignado.
- Os polícias tão multando tudo. Outro dia, levei duas senhoras no shopping. Parei o carro... eu tava segurando o cinto e o cara me multou. Disse que eu tava dirigindo sem cinto, acredita?! Depois fiquei sabendo que, no mesmo horário, o cara também me multou por andar na contra-mão. O desgraçado implicou comigo. Tudo mentira.
- Nossa... que chato...
A corrida não era curta. Pude ouvir bastante, sempre me mostrando atento com interjeições vazias de um tímido, mas educado, apoio.
Reparei, logo na partida, que ele havia alterado o taxímetro para a bandeira 2. Eram 9h da manhã, pensei. Olhei o adesivo, no vidro traseiro do carro, ao meu lado esquerdo... Ele realmente deveria estar com bandeira 1. Mas o papel colado denunciava: "Para percursos fora do perímetro urbano (ex. Aeroporto Afonso Pena), poderá ser cobrado até 30% a mais como taxa de retorno".
Fiz as contas... Se, na bandeira 1, é 1,60 por km rodado e, na bandeira 2, são 2,00 por km rodado, a cobrança era até inteligente. O cara estava me cobrando o máximo, mas estava me cobrando certo.
Quando finalmente chegamos, o taxímetro marcava 38,50. Peguei uma nota de 50,00, esperando receber 10,00 em troca.
- É pra empresa ou é pra você mesmo?
- Pra mim mesmo.
Disse que faria um desconto especial, então. Dando-me uma nota de 5 como troco, disse que não cobraria os 30% inteiros.
Olhei atônito. 9h40min. Imbecilmente, vesti minha roupa de palhaço e fechei a porta do carro. Quando dei o primeiro passo, pensei que era indignante não reclamar. Ajudei o mundo a ficar pior naquele instante e fui me preocupar com meu check-in. Tentei consolar minha mente idiota pensando que era a pressa.
Cheguei no balcão da empresa aérea. O vôo estava atrasado. Quando o avião chegou, eram 10h50min. O piloto identificou um problema na válvula seiláoque de seiláquallado. Solicitaram manutenção.
Agora estou em aqui. 11h57min. Culpando-me por não ser ousado.