Sim, aquilo era loucura.
Ao mesmo tempo que admirava as facilidades do mundo atual, ao lembrar do quão fácil foi encontrar seu endereço e saber sua rotina, sentia seu corpo formigar um pouco, como se a adrenalina, de certa forma, desse-lhe impulsos contraditórios a cada instante. Alguma coisa o empurrava para frente, outra lhe puxava para trás.
O clima quente do cerrado conspirava a seu favor. A janela da sacada estava entreaberta. No meio da madrugada, com a quadra completamente vazia e os poucos postes de iluminação, soltou o freio de mão do carro e empurrou-o pra bem perto. Olhou para um lado... olhou para outro... hesitou. De repente, subiu no capô e pulou para agarrar o parapeito.
Quando fez isso, pensou que era a criatura mais burra da face da Terra. Não iria conseguir sair dali. A queda era fatal. Entre todos os "ai meu Deus" que passaram pela sua cabeça, seu corpo foi se contorcendo para ultrapassar a sacada e, como num passe de mágica, viu-se com metade do corpo para dentro da casa de Lúcia.
Recuperou-se da aventura um pouco e, agachado no escuro, olhou para o balançar suave da cortina e abriu um sorriso ainda tímido, mas com os olhos muito bem abertos e brilhantes.
Tirou os sapatos e entrou. Foi reconhecendo lentamente o terreno e avistou o quarto dela. Passou a porta e a viu de camisola branca, deitada de bruços, agarrada ao travesseiro. Uma das pernas dobradas. A calcinha era azul. Nele, o coração quase saía pela boca. Sentia o peito estremecer a cada batida.
Ficou incontáveis minutos ali, admirando seu objeto de desejo.
11 comentários:
O conto está muito bom. Eu me indentifiquei com o carinha, muito embora o "ai meu deus" soou meio gay. Mas há muita adrenalina - mesmo - ficar na iminência de ser "pego" quando tudo que você quer é curtir a noite.
Merece um segundo capítulo!
para olhos perspicazes, há muitas dicas nas palavras ou nas imagens. Se as pessoas soubessem como é fácil encontrá-las na vida real a partir do virtual, teiram mais cuidado ao falar sobre si mesmas. Essa menina aí merecia um estupro.
Ailton, Helena ainda não conhece a sua face sem-noção. Ela vai ficar assustada.
Explicando: para Ailton, uma mulher pode ser responsável pelo estupro por colocar-se numa posição de perigo. Seu exemplo clássico é andar ou estacionar o veículo em rua erma.
Contudo, o rapaz está considerando erroneamente que a personagem é a própria autora ou que o ambiente da personagem é real. ^^
Nunca me manifesto nas "coisas" dos leitores, mas, dessa vez, não dá pra deixar passar em branco. 45iso, seu comentário é o mais machista que eu já vi. E, Mythus, nada, mas absolutamente nada mesmo, justifica um comentário desses. Era só o que me faltava colocar a culpa de um estupro na mulher. Depois, a personagem é a personagem. O ambiente é fictício. Mesmo assim, obter informações sobre pessoas desconhecidas nunca foi difícil. Você só precisa querer. Se, hoje em dia, não se precisa mais seguir alguém para saber todos os seus segredos, é outra história. Eita... passou forte o fantasma da censura pela minha cabeça... :-/
não, não. Vou me explicar. Mas antes de tudo, é claro que eu sei que isso é ficção. É assim: há loucos no mundo. E pior: os loucos sabem usar a internet. Assim, os loucos que sabem usar a internet podem se valer dessa facilidade tecnológica pra encontrar presas mais fáceis. Com isso vcs concordam. Então, sabendo que o cara achou o endereço de Lúcia fácil (e deve ter se valido da Internet ou de outros meios digitais), e como o narrador não contou nada sobre o cara antes de ele estar na frente da casa da menina, deu brechas pra que o leitor pensasse qq coisa. No meu caso, que sou paranóico, pensei logo que o cara ia estuprar o "objeto do desejo" dele. Mas pode ser só um amor platônico tbm. Quem sabe? Mas o que coloco em questão é: por que foi fácil achar o endereço dela? Rsposta: porque ela mesma forneceu na Internet, em seu fotolog, que tinha até a foto da frente de sua casa. Saca?
Pra saber o endereço e telefone de uma pessoa, você só precisa saber o nome. Nada mais. Nem precisa de internet pra isso. Eu entendo a sua personalidade "provocativa", mas quem cutuca onça sabe que pode haver conseqüências.
Depois... tem detalhes (olha o nome desse blog) que precisam ser notados. O texto começa: "sim, aquilo era loucura". Isso quer representar a fluência do pensamento do cara tanto quanto na hora do "ai, meu Deus". Os impulsos contraditórios, a adrenalina, o momento em que hesitou, tudo isso constrói a mente do personagem. Que coerência haveria num estupro após uma longa e passiva admiração? Existe um clima em cada conto que não pode ser ignorado. Você perceberá melhor depois de saber o desenrolar da situação.
mas isso é questão de interpretação. Você pode ter interpretado assim, outra pessoa interpretaria de outro modo. Claro que eu sei que você é a autora, mas ignoremos isso, façamos de conta que o texto é de outra pessoa; até porque depois que vc escreve, o texto ganha vida própria e foge das mãos de seu criador. Então: tudo isso, todos esses detalhes, ainda me fazem achar que o cara é um psicopata porque até os psicopatas sentem medo e crêem em Deus nas horas de desespero. Não que necessariamente ele vá estuprar a Lúcia, mas tudo que ele fez para chegar aonde chegou já caracteriza um desvio de personalidade. Então, desse personagem, eu espero tudo. E ainda aposto com vc que ele vai acabar estuprando a Lúcia no futuro.
esse extreme ainda tá pequeno, num tá não?
Que legal: Vc entra pra fazer um comentário e encontra um grupo de discussão. Mas não é caso de estupro, não. Já fiz algo muito parecido quando tinha meus 17, 18 anos...
Foi com uma voz sêca e intensa que ele se dispôs a ajudá-la.
Num reflexo de recusa estirou seu braço e desviou o dele.
Continuou andando sem tropeços enquanto ele a acompanhava.
Ouvia o andar compassado que ele insistia em manter com o dela.
Mesmo com o pêso em sua cabeça podia desviar o olhar e perceber o interesse alheio à cena.
Um tropeço colocou-o a sua frente. Olhar fixo. Perfume comum.
A trouxa caíra no chão. Odiosamente fitou os olhos dele e abaixou-se para juntar as roupas.
Aprumou a trouxa e arremeteu à cabeça. Driblou-lhe o corpo e seguiu em frente conscientemente muda.
é, bacana. mas "Lúcia" não é um nome que desperte desejo. muito pelo contrário. provoca desatração, repulsa até. "Lúcia" é, eu diria... um nome muito Avelar.
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